Por DOM BOSCO
Oh! Se soubesses, meu filho, o que fazes quando cometes um pecado mortal? Dás as costas aquele Deus que te criou e te cumulou de benefícios; desprezas a sua graça e a sua amizade.
Quem peca diz com os fatos ao Senhor: “Apartai-vos de mim, já não quero obedecer-Vos, não vos quero servir, não vos quero reconhecer por meu Senhor: Non sérviam. O meu Deus é aquele prazer, aquela vingança, aquele ódio, aquela conversação obscena, aquela blasfêmia”. Poder-se-á imaginar ingratidão mais monstruosa do que esta? Entretanto, meu filho, tudo isto fizeste quando ofendes-te ao teu Senhor.
Maior ainda se torna esta ingratidão, refletindo que, para pecar, serviste das mesmas coisas que Deus te deu. Ouvidos, olhos, boca, língua, mãos, pés, são todos dons de Deus e tu deles te serviste para ofendê-lo! Ah! Ouve pois o que te diz o Senhor: “Filho, eu te criei do nada; dei-te tudo o que agora tens, fiz-te nascer na verdadeira religião e receber o Santo Batismo. Podia deixar-te morrer quando estavas no pecado: conservei-te a vida para não te condenar ao inferno; e tu, esquecido de tantos benefícios, queres servir-te dos meus próprios dons para ofender-Me?” Quem não se sentirá tomado de profundo pesar por ter feito tamanha injúria a um Deus tão bom, tão benfazejo para conosco, suas criaturas?
Deves ainda considerar que este Deus, embora seja bom e infinitamente misericordioso, todavia fica muito indignado quando o ofendes. Por isso, quanto mais tempo viveres no pecado, tanto mais vais provocando e acumulando a ira de Deus contra ti. Deves portanto recear muito que os teus pecados cheguem a tal número que Ele por fim te abandone. In plenitúdine peccatórum púniet. Não que isto aconteça por te faltar a misericórdia divina, mas é que te faltará o tempo para pedir perdão, pois que não merece a misericórdia de Deus quem abusa para ofendê-Lo. Com efeito, quantos viveram no pecado na esperança de converter-se e entretanto chegou a morte e faltou-lhes o tempo para disporem os negócios da consciência e agora estão eternamente perdidos! Teme que não te venha acontecer a mesma coisa a ti. Depois de tantos pecados que Deus te perdoou, deves com razão recear que, com mais algum pecado mortal, a ira divina te fulmine e te precipite no inferno. Dê graças a Deus por ter-te esperado até agora e toma desde já uma firme resolução dizendo: “Basta, meu Deus; o pouco de vida que ainda me resta não a quero desperdiçar em ofender-Vos; hei de empregá-la em vos amar e chorar os meus pecados. Arrependo-me de todo o coração. Meu Jesus, quero amar-Vos; dê-me força. Virgem santíssima, Mãe de meu Jesus, ajudai-me. Assim seja”.
Fonte: O jovem instruído na prática de seus deveres religiosos.