Por DOM BOSCO
O Juízo é a sentença que o salvador há de pronunciar no fim de nossa vida, sentença com a qual fixará o destino de cada um por toda a eternidade. Apenas a alma tiver saído do corpo, comparecerá logo perante o supremo juiz. A primeira coisa que torna este comparecimento terrível à alma do pecador, é que a alma se encontrará sozinha na presença de um Deus que conhece todos os segredos do nosso coração, todos os nossos pensamentos. E que levaremos conosco? Levaremos aquele pouco de bem ou de mal que tivermos feito durante a vida: Ut réferat unusquísque própria corporis, prout gessit, sive bonum, sive malum. Não se pode então inventar nem escusa nem pretexto nenhum. Santo Agostinho, falando deste tremendo comparecimento, disse: “Quando tu, ó homem, compareceres diante do criador para seres julgado, terás sobre tua cabeça um juiz indignado; de um lado os pecados que te acusam; de outro os demônios prontos a executar a condenação; dentro de ti uma consciência que te agita e te atormenta; debaixo de ti um inferno aberto, pronto a tragar-te. Em tais apertos, para onde irás, para onde fugirás?” Feliz de ti, ó meu filho, se tiveres feito o bem durante a tua vida. Entretanto o divino juiz abrirá os livros da consciência e começará o exame: Judícium sedit, et livre apérti sunt. Então dirá aquele juiz inapelável: quem és tu? – Sou um Cristão, responderás. – Bem, replicará Ele; se és Cristão, vamos ver se procedeste como Cristão. Em seguida começará a recordar as promessas feitas no Santo Batismo, pelas quais renunciaste ao demônio, ao mundo, à carne; lembrar-te-á as graças que te concedeu, as muitas vezes que recebeste os sacramentos, as pregações, as instruções, os avisos dos confessores, as correções dos pais: Tudo será posto diante de ti. – Mas tu, dirá então o divino juiz, apesar de tantos dons, de tantas graças, oh! Quão mal correspondestes a tua profissão de cristão! Mal chegando a idade em que apenas começavas a conhecer-Me, começaste a ofender-Me com mentiras, com faltas de respeito na igreja, com desobediências a teus pais e com muitas outras transgressões dos teus deveres. Ainda bem se com o ocorrer dos anos tivesses melhorado o teu procedimento; mas não: Justamente com a idade aumentou em ti, infelizmente, também o desprezo a minha lei. Missas perdidas, profanação dos dias santos, blasfêmias, jejuns não observados, confissões mal feitas, comunhões às vezes sacrílegas, escândalos dados aos companheiros: Eis o que fizeste em vez de servir-Me.
Voltar-se-á para o escandaloso, cheio de indignação, dizendo: Vês aquela alma que caminha pela estrada do pecado? Foste tu, com as tuas conversas imorais, que lhe ensinaste a malícia. Tu, como cristão que és, devias ensinar com o bom exemplo o caminho do Céu aos teus companheiros; pelo contrário, traindo o meu sangue, lhes ensinaste o caminho da perdição. Vês aquela alma no inferno? Foste tu com os teus pérfidos conselhos, que a arrancaste a mim para entregá-la ao demônio. Foste tu a causa de sua eterna perdição. Agora pague a tua alma por aquela outra que deitaste a perder com os teus escândalos: Répetam anima tuam pro anima illíus.
Que te parece, meu filho, deste exame? Que te diz a consciência? Estás ainda em tempo, se quiseres; pede a Deus perdão de teus pecados e faze um sincero propósito de não tornar a pecar; começa desde hoje uma vida de bom cristão, preparando-te assim um tesouro de boas obras para o dia em que deverás comparecer perante o tribunal de Jesus Cristo.
À vista das rigorosas contas que o juiz supremo exige do pecador, tentará este abduzir alguma escusa ao pretexto, dizendo que não sabia que deveria ser submetido a um exame tão rigoroso. Mas receberá esta resposta: E não ouviste aquele sermão e aquela explicação do catecismo? Não leste naquele livro que eu haveria de pedir rigorosas contas de tudo? O infeliz então se encomendará a misericórdia divina; mas a misericórdia não é mais para ele, porque não merece misericórdia quem por tanto tempo dela abusou e porque na morte termina o tempo da misericórdia. Recomendar-se-á aos anjos, aos santos, a Maria Santíssima; e Maria responderá por todos: Agora é que pedes o meu auxílio? Não me quiseste por Mãe durante a vida e agora já não te quero por filho; já não te conheço. Então o pecador, não encontrando mais nenhum refúgio, bradará as montanhas, aos rochedos, que o cubram e eles não se moveram.
Invocará o inferno e vê-lo-á aberto: Inférius horréndum chaos. Esse é o momento em que o inexorável juiz proferirá a tremenda sentença: filho infiel, dirá, para longe de mim. Meu Pai celeste te amaldiçoou: Eu também te amaldiçoo. Vai para o fogo eterno a gemer e sofrer com os demônios por toda a eternidade. Aquela alma infeliz, antes de afastar-se para sempre do seu Deus, volverá pela última vez o olhar ao Céu e no auge da desolação dirá: Adeus, companheiros, adeus, amigos que habitais o reino da glória; adeus, pai, mãe, irmãos, irmãs; vós gozareis para sempre e eu serei para sempre atormentado. Adeus, meu anjo da guarda, anjos e santos todos do paraíso: Não vos tornarei a ver jamais. Adeus, ó Salvador, adeus ó cruz santa, adeus, ó sangue em vão por mim derramado; não vos tornarei a ver jamais. Desde este momento eu não sou filho de Deus; serei para sempre escravos dos demônios no inferno. Então os demônios, que se tornaram senhores desta alma, arrastando-a e empurrando-a, a farão cair nos seu abismos de torturas, de misérias, de tormentos eternos.
Meu filho, não receais que tal sentença seja também a tua? Ah! por amor de Jesus e de Maria, prepara com boas obras uma sentença favorável e lembra-te que como é terrível a sentença proferida contra o pecador, igualmente consolador será o convite que há de dirigir Jesus a quem viveu cristãmente. Vem, dirá, vem para posse da glória que te preparei. Tu me serviste com fidelidade no breve tempo de tua vida; agora gozarás eternamente: Intra in gáudium Dómine tui.
Meu Jesus, concedei-me a graça de poder ser também eu um desses bem-aventurados. Virgem santíssima, ajudai-me; protegei-me na vida e na morte e especialmente quando me apresentar ao vosso Filho para ser julgado.
Fonte: O jovem instruído na prática de seus deveres religiosos.