Por DOM BOSCO

O inferno é um lugar destinado pela justiça divina para punir com suplícios eternos os que morrem em pecado mortal. A primeira pena que os condenados sofrem no inferno, é a pena dos sentidos, que são atormentados por um fogo que queima horrivelmente, sem nunca diminuir de intensidade. Fogo nos olhos, fogo na boca, fogo em todas as partes. Cada sentido sofre a própria pena; os olhos sofrem pela fumaça e pelas trevas e são aterrados pela vista dos demônios e dos outros condenados. Os ouvidos, dia e noite só escutam contínuos uivos, prantos e blasfêmias. O olfato sofre enormemente pelo mal cheiro daquele enxofre e pez ardente que o sufoca. A boca é atormentada por sede devoradora e fome canina: At famem patiéntur ut canes. O mau rico no meio daqueles tormentos, ergueu o olhar ao céu e pediu, como grande graça, uma pequena gota de água para mitigar a aridez de sua língua e também essa gota de água lhe foi negada. Por isso aqueles infelizes, requeimados de sede, devorados pelas chamas, atormentados pelo fogo, choram, gritam e se desesperam. Oh! inferno, inferno! Como são infelizes os que caem em teus abismos! - E Tu que dizes, meu filho? Se tivesses que morrer neste instante, para onde irias?  Se agora não podes conservar um dedo sobre uma pequena chama de vela, se não podes aguentar nenhuma fagulha de fogo na mão sem gritar, como poderás aguentar-te então entre aquelas chamas por toda a eternidade?

Considera além disso, meu filho, o remorso que experimenta a consciência dos condenados. Eles padeceram o inferno na memória, na inteligência, na vontade. Recordaram continuamente o motivo da sua perdição, isto é, por terem querido secundar alguma paixão. Esta lembrança é o verme que nunca morre: Vermis eórum non móritur.

Recordaram o tempo que Deus lhes deu para evitar a perdição, os bons exemplos dos companheiros, os propósitos feitos e não cumpridos. Pensarão nos sermões ouvidos, nos avisos do confessor, nas boas inspirações para deixar o pecado; vendo que já não há remédio, lançarão gritos desesperados. A vontade nada terá do que deseja e ao contrário padecerá todos os males. A inteligência conhecerá finalmente o grande bem que perdeu. 

A alma separada do corpo, ao apresentar-se no tribunal divino, entrevê a beleza de Deus, conhece toda a sua bondade, chega quase a contemplar por um instante o esplendor do paraíso, ouve talvez também os cantos harmoniosíssimos dos anjos e dos santos. Que dor ver que tudo isso se perdeu para sempre! Que poderá resistir a tais tormentos?

Meu filho, tu que agora não se importas de perder o teu Deus e o paraíso, conhecerás a tua cegueira quando vires tantos companheiros teus, mais ignorantes e mais pobres do que tu, triunfarem e gozarem no reino dos céus, ao passo que tu serás amaldiçoado por Deus e serás arrojado para longe daquela pátria feliz, do gozo do mesmo Deus, da companhia da Santíssima Virgem e dos santos.

Eia pois, faze penitência, não esperes para quando não houver mais tempo, entrega-te a Deus. Quem sabe se não é este o último chamado e, se não correspondes, quem sabe se Deus não te abandona e não te deixa cair naqueles eternos suplícios! Oh! meu Jesus, livrai-me do inferno!

Fonte: O jovem instruído na prática de seus deveres religiosos.