Por DOM BOSCO
A morte é a separação da alma do corpo, como total abandono das coisas deste mundo. Considera portanto, meu filho, que a tua alma deverá separar-se do corpo; mas não sabes se a morte te assalta na tua cama, ou durante o trabalho, ou na rua, ou em outra parte.
A ruptura de uma veia, um catarro, uma hemorragia, uma febre, uma chaga, uma queda, um terremoto, um raio, bastam para te tirar a vida. Isso pode acontecer daqui a um ano, daqui a um mês, a uma semana, a uma hora e talvez ao terminar a leitura desta consideração. Quantos se deitaram à noite cheios de saúde e de manhã foram encontrados mortos! Quantos acometidos de algum ataque morreram de repente! E depois para onde foram? Se estava na graça de Deus, felizes deles! Gozarão para sempre. Se, pelo contrário, se achavam em pecado mortal, estão para sempre perdidos. Dizei-me, filho, se tivesses que morrer neste instante, o que seria de tua alma? Ai de ti, se não te manténs sempre preparado! Quem não está hoje preparado para bem morrer, corre grande perigo de morrer mal.
Embora seja incerto o lugar e incerta a hora de tua morte, é porém muito certo que a morte há de vir. Quero esperar que a última hora de tua vida não venha repentinamente ou de modo violento, mas aos poucos e precedida de uma doença comum. Mas há de chegar um dia no qual, estendido numa cama, estarás prestes a passar a eternidade, assistido por um sacerdote que encomendará tua alma, tendo um crucifixo ao lado e uma vela acesa do outro, e derredor os parentes que choram. Terás a cabeça dolorida, olhos embaçados, a língua ressequida, a garganta presa, a respiração ofegante, o sangue a arrefecer, o corpo consumido, o coração aflito. E logo que a alma expire, o teu corpo vestido de poucos andrajos será a apodrecer em uma cova. Aí os ratos e os vermes roeram todas as tuas carnes e de ti restaram apenas quatro ossos descarnados e um pó nauseabundo. Abre um sepulcro e vê a que ficou reduzido aquele jovem rico, aquele ambicioso, aquele soberbo. Lê com atenção estas linhas, meu filho, e lembra-te que elas se aplicam também a ti igualmente como a todos os demais homens. Agora o demônio, para induzir-te a pecar, procura arrancar-te deste pensamento e levar-te a escusar a tua culpa, dizendo-te não ser enfim tão grande mal aquele prazer, aquela desobediência, aquela omissão da missa nos domingos; mas na hora da morte descobrir-te-á a gravidade destes e de outros teus pecados, pondo-os diante de ti. E que haverás de fazer tu então, no ponto de te encaminhares para tua eternidade? Ai de quem se achar em desgraça de Deus naquele momento!
Considera que do instante da morte depende a tua eterna salvação ou eterna perdição. Nas proximidades da morte, ao avizinhar-se aquela última vez que se fecha a boca, a luz daquela vela, quantas coisas se hão de ver! Duas vezes temos diante de nós uma vela acesa: Quando somos batizados e em ponto de morte; a primeira vez, para conhecermos os preceitos da lei divina que devemos guardar; A segunda, para que vejamos se os temos cumprido. Por isso, meu filho, a luz dessa vela hás de ver se amas-te o teu Deus ou se o desprezas-te; se honras-te o seu santo nome ou se O blasfemaste; hás de ver os dias santos profanados, as missas deixadas, as desobediências aos superiores, os maus exemplos dados aos companheiros; verás aquela soberba, aquele orgulho que te lisonjeava; verás... mas, oh! Deus! Tudo verás naquele momento, no qual se abrirá diante de ti o caminho da eternidade: Moméntum a quo pendet aéternitas. Oh! grande, oh! terrível momento, do qual depende uma eternidade de glória ou de tormentos! Compreendes bem o que te digo? Quero dizer que daquele momento depende ir para o Céu ou para o inferno; ser para sempre feliz ou para sempre infeliz; para sempre filho de Deus ou para sempre escravo do demônio; para sempre gozar com os anjos com os santos no céu ou gemer e arder para sempre com os condenados no inferno!
Teme grandemente pela tua alma e pensa que do viver bem depende uma boa morte e uma eternidade de glória. Por isso, não difiras por mais tempo e prepara-te desde já para fazer uma boa confissão e dispor bem as coisas da tua consciência, prometendo a Nosso Senhor perdoar os teus inimigos, reparar os escândalos dados, santificar os dias de guarda, cumprir os deveres do teu estado.
E agora, põe-te na presença de teu Deus e dize-Lhe de coração: Meu Deus, desde este momento eu me converto a Vós; amo-Vos, quero amar-Vos e servir-Vos até a morte. Virgem santíssima, minha Mãe, ajudai-me naquele terrível momento. Jesus, José e Maria, expire em paz entre vós a minha alma.
Fonte: O jovem instruído na prática de seus deveres religiosos.