Alguns filósofos antigos negaram que o mundo seja governado, dizendo que todas as coisas agiam ao acaso. Esta posição mostra-se impossível por dois motivos:
1. Primeiro, em razão daquilo que se manifesta nas próprias coisas. Vemos, com efeito, nas coisas naturais suceder o que é melhor, sempre ou na maioria das vezes. Isso não aconteceria, a não ser que as coisas naturais fossem conduzidas, por uma providência, a um fim bom. Isto é governar. Daí se vê que a própria ordem exata das coisas demonstra, de maneira clara, que o mundo é governado. Segundo a observação de Cícero, citando Aristóteles, quando se entra numa casa bem arrumada, esta arrumação bem ordenada permite perceber a presença orientadora do senhor da casa.
2. Em segundo lugar, o mesmo fica claro, pela consideração da bondade divina, pela qual as coisas foram produzidas no existir, como acima mencionado (Q. 44, a. 4; q. 65, a. 2). Dado que é próprio do excelente produzir coisas excelentes, não convém à bondade soberana de Deus não conduzir à perfeição as coisas por ele produzidas. Ora, a perfeição última de qualquer coisa consiste na consecução do fim. Logo, cabe à divina bondade, assim como produziu as coisas no existir, também conduzi-las ao fim. Isto é governar.
Fonte: Suma Teológica, I, 103, 1