Por Luigi Accattoli
Francisco não grita contra as leis que violam os "valores inegociáveis": é uma das novidades do seu modo de ser papa. Ele compartilha a necessidade do protesto, mas deixa essa tarefa aos bispos de cada país, que conhecem especificamente as leis a serem submetidas à crítica. Teve-se uma prova disso nesse domingo (16), com o que ele disse na Praça de São Pedro durante a celebração da Jornada da Evangelium Vitae (O Evangelho da Vida).
"Digamos ´sim´ ao amor e ´não´ ao egoísmo, digamos ´sim´ à vida e ´não´ à morte, digamos ´sim´ à liberdade e ´não´ à escravidão dos muitos ídolos do nosso tempo": assim falou Bergoglio diante de uma praça lotada como sempre. A mensagem era muito clara, tanto é que as agências de notícias e os sites logo intitularam: "Papa diz não ao aborto e à eutanásia". É verdade que ele pretendia dizer esse ´não´, mas não nomeou nem o aborto, nem a eutanásia.
"Muitas vezes, o ser humano – disse ainda – não escolhe a vida, não acolhe o Evangelho da vida, mas se deixa guiar por ideologias e lógicas que colocam obstáculos à vida, que não a respeitam, porque são ditadas pelo egoísmo, pelo interesse, pelo lucro, pelo poder, pelo prazer, e não pelo amor". Assim ele desenvolveu toda a sua argumentação da pedagogia católica sobre o assunto, sem entrar no campo legislativo.
Ele havia feito a mesma coisa no dia 12 de maio, ainda na Praça de São Pedro, saudando os participantes da "Marcha pela Vida", que havia ocorrido naquela manhã pelas ruas de Roma. Houve decepção entre alguns dos manifestantes, que queriam uma palavra mais direta sobre a questão das leis, como geralmente faziam os papas Wojtyla e Ratzinger.
Em ambientes militantes, foi ainda mais viva a desilusão com o silêncio do papa sobre a batalha dos católicos franceses contra o casamento gay: Francisco nunca falou a respeito e sequer a mencionou quando recebeu – no sábado – os parlamentares do "Grupo de Amizade França-Santa Sé": ele lembrou que, entre as tarefas dos parlamentares, também está a de "revogar as leis", mas não disse que os católicos da França deviam trabalhar pela revogação da lei Taubira.
Há polêmica sobre essa atitude do novo papa nos ambientes católicos que lidam com a política. A maioria defende que, um dia, ele vai falar "claro" e citam como prova o que ele disse em algumas ocasiões como arcebispo de Buenos Aires. Outros apostam que ele nunca vai intervir diretamente sobre uma questão nacional específica.
Fonte: Corriere della Sera, 17-06-2013.